Artigo by Brasil Energia em 28/08/2021

A Petrobras está prestes a colocar um ponto final na sua atividade de exploração onshore no Brasil. O encerramento dos trabalhos da petroleira em terra ocorrerá a partir da formalização da venda dos blocos PAR-T-175, PAR-T-198 e PAR-T-218, inseridos recentemente no programa de desinvestimento da empresa e que, desde o início de agosto, avançaram para a fase vinculante, último estágio do processo.
Localizados na Bacia do Paraná, os três ativos são os únicos blocos operados remanescentes da carteira exploratória onshore da Petrobras, que chegou a contar com mais de 100 projetos terrestres. As áreas colocadas à venda foram arrematadas nas rodadas 12 e 14, realizadas em 2013 e 2017, respectivamente.
Embora a saída do segmento de exploração onshore viesse sendo alinhavada já há alguns anos pela direção da empresa, a iniciativa de venda dos últimos blocos da carteira marca o encerramento de mais de seis décadas de atividades nesse segmento. Caso continuasse com os trabalhos em terra, a petroleira completaria, em 2023, 70 anos de pesquisa exploratória nas bacias terrestres brasileiras.
Os blocos PAR-T-198 e PAR-T-218 estão localizados no extremo oeste do estado de São Paulo. A Petrobras já cumpriu a primeira fase do programa exploratório mínimo dos dois ativos.
Já o PAR-T-175 está localizado na porção leste do estado de Mato Grosso do Sul. A primeira fase do compromisso exploratório do ativo expira em 2023 e não foi totalmente executada.
Na prática, a estratégia de desinvestimento dos três blocos da Bacia do Paraná consolidará em definitivo a posição da Petrobras como empresa offshore de E&P, com foco direcionado prioritariamente ao pré-sal. A saída do onshore enterra todo um simbolismo de anos de atividades, que por muitas vezes esteve atrelado à percepção de vetor de crescimento econômico de muitos estados, sobretudos do Nordeste e do Norte do país.
Nos tempos de maior atividade, a Petrobras chegou a operar mais de 100 blocos em terra, mantendo mais projetos exploratórios em terra do que no offshore. Antes do boom do offshore, as perfurações exploratórias onshore atingiram a média de cerca 100 poços por ano, grande parte realizada na década de 80.
As primeiras iniciativas da Petrobras em terra tiveram início em 1953, no ano da sua criação. Em 1955, depois de algumas investidas exploratórias no Amazonas, a companhia fez sua primeira descoberta em terra, com o campo de Nova Olinda, posteriormente avaliado como subcomercial. Dois anos depois, em 1957, era assegurado o primeiro resultado da Bacia de Sergipe-Alagoas, com a área de Jequiá.
Já na década de 1960, as campanhas confirmaram as descobertas dos campos de Carmópolis, em Sergipe (1963), e Miranga, no Recôncavo, em 1965. No período de 1954 a 1968, a Petrobras perfurou 776 poços exploratórios terrestres, dos quais 116 comprovaram a existência de novos reservatórios.
Em seguida, vieram outros importantes resultados com as descobertas dos campos de Mossoró, em 1979, e Canto do Amaro, em 1985, ambos na Bacia Potiguar, Urucu, em 1986, na Bacia do Solimões.
Investida X enxugamento
As últimas investidas de peso da Petrobras voltadas à ampliação da carteira onshore de exploração foram feitas na gestão da ex-presidente, Graça Foster. Em 2013, a companhia adquiriu numa só tacada 43 blocos terrestres durante a 12ª Rodada, sendo 18 na Bacia do Recôncavo, 15 em Sergipe-Alagoas, nove no Paraná e um no Acre.
A partir de 2016, afundada na crise financeira da Lava Jato e já sob o discurso liberal da gestão de Pedro Parente, a Petrobras passou a deixar de lado a atividade onshore. Após a super investida na 12ª Rodada, a companhia adquiriu apenas um único bloco terrestre nos leilões da ANP, o PAR-T-175, arrematado em 2017 e colocado à venda agora no programa de desinvestimento.
Desde então, a estratégia da empresa tem sido focada a ofertar parte dos blocos de terra no programa de desinvestimento ou simplesmente fazer a devolução da área para a ANP. Somente ao longo de 2020, a companhia devolveu um total de 20 áreas exploratórias, localizadas nas bacias do Acre, Potiguar, Recôncavo e Sergipe-Alagoas.
No ano anterior, em 2019, o balanço das baixas já totalizava 13 ativos exploratórios terrestres, desta vez devoluções no Paraíba, Potiguar, Recôncavo e Sergipe-Alagoas. No acumulado de 2016 a 2020, a petroleira devolveu quase 50 blocos onshore.
A diretriz determinada pela companhia fez com que a carteira viesse sendo enxugada ano a ano. Até 2018, a Petrobras mantinha 45 blocos onshore sob operação.
Desinvestimento em detalhes
No que diz respeito ao processo de venda, por enquanto, não há confirmação sobre os nomes das empresas que demonstraram interesse em adquirir os blocos PAR-T-175, PAR-T-198 e PAR-T-218. A julgar pelo fato de a Petrobras ter avançado direto para a fase vinculante, pulando a etapa não-firme, o número de companhias que avalia o processo não é expressivo.
Tradicionalmente, quando o processo de desinvestimento tem poucos participantes, a Gerência Executiva de Gestão de Portfólio da Petrobras e o banco responsável por coordenar o processo optam por dispensar a etapa não vinculante. A fase inicial é normalmente utilizada para fazer uma primeira seleção das empresas interessadas, reduzindo o número de participantes.
A venda dos ativos PAR-T-175, PAR-T-198 e PAR-T-218 é vista com alguma incerteza. A Bacia do Paraná divide opiniões, rende debates técnicos e nunca sediou grandes disputas.
No mercado, as poucas apostas e palpites se voltam ao nome da Eneva, que opera quatro blocos na região, o PART-T-86, PART-T-99, PART-T-196 e PART-T-215, arrematados no 2º ciclo da oferta permanente, em parceria com a Enauta. Os ativos do consórcio estão localizados nos estados do Mato Grosso do Sul e Goiás.
A aposta do grupo em relação aos blocos do 2º ciclo da oferta permanente é direcionada a possibilidade de similaridade do reservatório local com o do Parnaíba, onde a Eneva mantém atividade de E&P. Em caso de sucesso, o consórcio analisa a utilização do modelo de reservoir-to-wire (R2W), com a geração de energia elétrica a partir do gás natural, ou a venda direta do combustível, uma vez que as áreas estão localizadas próximas a grandes centros consumidores, térmicas e à rede do gasoduto Brasil-Bolívia.
O mapa exploratório da Bacia do Paraná conta apenas com os três blocos da Petrobras e os quatro da Eneva. A atividade local está praticamente estagnada. O último poço perfurado na área foi feito no fim da década de 1990.
Em meio à expectativa de um número restrito de interessados, há quem não descarte a possibilidade de a Petrobras enfrentar o risco de não conseguir vender todos os ativos do teaser, seja por falta de oferta ou por preço abaixo da premissa estabelecida pela área técnica. A aposta nesse caso se volta à estratégia de devolução à ANP.
A saída da Petrobras do onshore gera debates acalorados, mas parece ser um caminho sem volta, diante do atual quadro da companhia e do cenário de pressão de transição energética. A única possibilidade de reviravolta dessa diretriz poderia vir do resultados das eleições presidenciais de 2022.
Mapa terrestre
A diretriz da Petrobras de priorizar as atividades offshore, enxugando sua carteira onshore, tem impactado diretamente o mapa exploratório brasileiro. O número de áreas sob concessão vem caindo ano a ano.
Atualmente, existem 103 ativos exploratórios onshore no Brasil, marca que já computa os contratos do 2º ciclo da oferta permanente, ante o patamar de 142 blocos offshore. Em 2018, o país detinha mais que o dobro de áreas, com um total de 218 projetos terrestres de exploração.
Afora a Petrobras, que formata sua saída, o segmento conta com outras 22 operadoras terrestres, com atividades nas bacias de Alagoas, Amazonas, Espírito Santo, Paraná, Parnaíba, Potiguar, Recôncavo, São Francisco, Solimões e Tucano Sul. A lista de petroleiras com blocos onshore no Brasil inclui nomes como o da Imetame, Geopark, Eneva, Great Energy, Rosneft e Recôncavo Energia.
Atualmente, Eneva e Imetame lideram o ranking das petroleiras com maior número de ativos exploratórios onshore, com o marca de 24 e 18 áreas, respectivamente.
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